Cardiometabolismo

Semaglutida Reduz Riscos Cardiovasculares em Pacientes com Sobrepeso e Obesidade

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Em pacientes com doença cardiovascular (DCV) pré-existente e que estão com sobrepeso ou obesidade, mas que não têm diabetes, semaglutida 2,4mg subcutânea administrada uma vez por semana mostrou-se superior ao placebo na redução do risco de morte cardiovascular, infarto do miocárdio (IAM) ou acidente vascular cerebral (AVC), de acordo com os resultados do estudo SELECT, apresentados em 11 de novembro na AHA 2023 e publicados simultaneamente no New England Journal of Medicine.

Nós já havíamos antecipado essa notícia aqui, mas agora temos todos os detalhes deste importante estudo.

Vamos aos detalhes!

O SELECT randomizou 17.604 pacientes (com idade ≥45 anos, IMC ≥27 kg/m²) de 41 países, que estavam com sobrepeso ou obesidade, apresentavam doença cardiovascular estabelecida e SEM histórico de diabetes, para receber semaglutida subcutânea uma vez por semana (2,4 mg) ou placebo. A doença cardiovascular prévia foi definida por infarto do miocárdio (MI) anterior, AVC, ou doença arterial periférica (PAD) com claudicação e índice tornozelo-braquial <0,85, revascularização anterior ou amputação.

Notavelmente, apenas adultos com doença cardiovascular prévia foram incluídos no estudo, e apenas 28% dos participantes eram mulheres. Outras características destacadas incluem:

  • IMC médio: 33,3 kg/m²
  • IMC ≥30 kg/m²: 71,5%
  • Infarto do miocárdio prévio: 76%
  • AVC prévio: 23%
  • PAD sintomática: 9%
  • Pré-diabetes (HbA1c 5,7-6,4%): 66%
  • Porcentagem em terapia com estatina: 88%
  • LDL médio da população: 78 mg/dL
  • Porcentagem do braço semaglutida atingindo a dose-alvo: 77%

O desfecho primário foi um composto de morte por causas cardiovasculares, MI não fatal ou AVC não fatal.

Quais os principais achados?

Durante um acompanhamento médio de 33 meses, a semaglutida mostrou-se superior ao placebo, reduzindo o risco de morte cardiovascular, infarto do miocárdio ou AVC em 20% (6,5% vs. 8,0%; HR 0,80, IC 95% 0,72-0,90, p < 0,001).

Quanto aos desfechos secundários, o risco de morte cardiovascular ou hospitalização por insuficiência cardíaca diminuiu 18% (3,4% vs. 4,1%; HR 0,82, IC 95% 0,71-0,96), bem como o risco de infarto do miocárdio não fatal foi 28% menor (2,7% vs. 3,7% (HR 0,72, IC 95% 0,61-0,85).

Notadamente, também houve redução na mortalidade por todas as causas (4,3% vs. 5,2%; HR 0,81, IC 95% 0,71-0,93). Além disso, a semaglutida foi associada a reduções significativas no peso corporal, circunferência da cintura, níveis de colesterol e triglicerídeos, e melhora na pressão arterial. A descontinuação do medicamento foi mais comum no grupo do semaglutida, principalmente devido a sintomas gastrointestinais (880 pacientes vs. 172 pacientes, respectivamente).

Recapitulando…

Em pacientes com sobrepeso ou obesidade e DCV estabelecida sem DM, a semaglutida subcutânea uma vez por semana foi associada a uma redução de 20% nos eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE) durante um período médio de exposição de 33 meses. Este benefício foi observado mesmo no contexto de uso intenso de estatina. A descontinuação do medicamento do estudo foi duas vezes mais comum no braço da semaglutida e foi principalmente devido à intolerância gastrointestinal, um efeito colateral conhecido dos agonistas do receptor GLP-1. Já os efeitos adversos graves foram semelhantes ou até menos frequentes com a semaglutida.

Estudos anteriores sobre intervenções de estilo de vida e farmacológicas não demonstraram um forte efeito na redução do risco CV associado ao sobrepeso e obesidade. O estudo SELECT estende os achados do SUSTAIN-6 e de outros ensaios com agonistas do receptor GLP-1, que demonstraram benefício CV no DM, para essa população de maior risco. Os efeitos cardioprotetores dos agonistas do receptor GLP-1 não são totalmente compreendidos e provavelmente são multifatoriais, conforme observado pela maior redução na pressão arterial sistólica e no DM incidente no braço de tratamento. O último é significativo, dada a prevalência de pré-diabetes na coorte do estudo, bem como a interação associada na análise de subgrupo exploratória. Com base nesses dados, a semaglutida subcutânea pode ter um papel expandido na prevenção secundária de DCV em pacientes sem DM e com sobrepeso ou obesidade.

Atenção!

Embora a apresentação de semaglutida 2,4mg (Wegovy®) tenha sido liberada pela ANVISA em 2023, esta formulação ainda não está disponível no país, e deve chegar apenas em 2024.

Referências

Lincoff AM, Brown-Frandsen K, Colhoun HM, et al., on behalf of the SELECT Trial Investigators. Semaglutide and Cardiovascular Outcomes in Obesity Without Diabetes. N Engl J Med 2023;Nov 11:[Epub ahead of print].

Editorial: Khera A, Powell-Wiley. SELECTing Treatments for Cardiovascular Disease — Obesity in the Spotlight. N Engl J Med 2023;Nov 11:[Epub ahead of print].

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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