Hemodinâmica

Devo usar imagem intravascular de rotina para realizar angioplastia?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

A intervenção coronária percutânea (ICP) é um procedimento comum realizado para tratar a doença arterial coronariana (DAC), e é frequentemente realizada em pacientes com lesões coronarianas complexas, o que pode aumentar o risco de eventos adversos durante ou após o procedimento. A orientação por angiografia convencional durante a ICP tem limitações, uma vez que ela pode subestimar a extensão da doença arterial e as dimensões das lesões.

As imagens intravasculares (IVUS ou OCT), por outro lado, permitem uma visualização mais precisa das lesões coronarianas, possibilitando melhor avaliação da extensão da doença arterial e das dimensões das lesões. Isso pode melhorar a precisão da ICP e reduzir o risco de eventos adversos durante ou após o procedimento.

O estudo RENOVATE-COMPLEX-PCI buscou determinar se o uso rotineiro de imagens intravasculares para guiar a ICP de lesões complexas poderia resultar em melhores resultados clínicos para os pacientes, em comparação com a orientação por angiografia convencional.

Foram incluídos 1.639 pacientes com doença arterial coronariana (DAC) submetidos à angioplastia de lesões complexas, em 20 centros de saúde na Coreia do Sul.

Os pacientes foram randomizados em dois grupos, na proporção de 2 para 1: um grupo foi guiado apenas pela angiografia convencional (grupo controle, n=547), e o outro grupo recebeu orientação por imagem intravascular (IVUS ou OCT) (grupo intervenção, n=1.092). O tempo de seguimento médio foi de 2,1 anos.

Quais os principais resultados do estudo?
  • O grupo orientado por imagem intravascular teve uma redução significativa na taxa de eventos adversos cardíacos maiores (MACE) (7,7% vs. 12,3% no grupo de orientação por angiografia convencional) – HR 0,64; IC95%, 0,45 a 0,89.
  • A morte por causas cardíacas foi também significativamente menor no grupo intervenção (1,7% vs. 3,8% no grupo de orientação por angiografia convencional) – HR 0,47; IC95% 0,24 – 0,93.
  • O grupo que recebeu orientação por imagem intravascular também teve uma redução na taxa de infarto do miocárdio relacionado ao vaso alvo, porém não significativa (3,7% vs. 5,6% no grupo de orientação por angiografia convencional) – HR 0,74; IC95%, 0,45 a 1,22.
  • Não houve diferenças aparentes entre os grupos na incidência de eventos de segurança relacionados ao procedimento.

Portanto, a orientação por imagem intravascular resultou em uma redução significativa de eventos adversos cardíacos maiores e revascularização da lesão-alvo em um período de um ano em comparação com a orientação por angiografia convencional durante a intervenção coronária percutânea complexa.

Qual a mensagem principal?

A mensagem principal do estudo é que guiar a ICP com uso de imagem intravascular, como a tomografia de coerência óptica (OCT) ou a ultrassonografia intravascular (IVUS), é superior à orientação por angiografia convencional durante a angioplastia de lesões complexas.

O estudo mostrou que o uso rotineiro destes recursos de imagens resultou em uma redução significativa na taxa de eventos adversos cardíacos maiores e na necessidade de revascularização da lesão-alvo em um período de um ano. Além disso, a orientação por imagem intravascular reduziu a quantidade de stents necessários, o que pode reduzir os custos e complicações associados ao procedimento.

E agora? IVUS e OCT para toda angioplastia?

Não é bem assim. Lembremos dos critérios de inclusão. Esses resultados se aplicam à ICP de lesões coronárias complexas. Portanto, a a orientação por imagem intravascular deve ser sempre considerada de rotina como adjuvante no tratamento dessas lesões.

Referências:

Lee JM, Choi KH, Song YB, et al., on behalf of the RENOVATE-COMPLEX-PCI Investigators. Intravascular Imaging–Guided or Angiography-Guided Complex PCI. N Engl J Med 2023;Mar 5:[Epub ahead of print].

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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