Hemodinâmica

Quais as potenciais vantagens da angioplastia com balão farmacológico?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Embora sejam considerados o padrão ouro para angioplastia, os stents farmacológicos (DES) ainda estão associados a um risco baixo (mas real) de eventos adversos relacionados ao stent – principalmente reestenose – ao longo do tempo, o que é proporcional ao comprimento e complexidade da lesão. Os balões revestidos com medicamentos (BRM), surgiram recentemente como uma alternativa promissora, devido ao potencial de fornecer liberação direta de drogas antiproliferativas na parede do vaso, sem a presença do metal. No entanto, atualmente apenas poucos dados apoiam o uso de balões farmacológicos para lesões novas em grandes vasos coronários. Por isso, essas ferramentas ainda são pouco utilizadas no dia-a-dia do cardiologista intervencionista.

Um novo estudo procurou avaliar o papel do balão revestido com medicamentos na angioplastia de lesões longas e complexas. Eles concentraram as intervenções na artéria coronária descendente anterior esquerda (DA), uma vez que esse vaso é frequentemente acometido por doença aterosclerótica difusa que requer implante de stents longos. Muitas angioplastias de DA, por exemplo, acabem “enjaulando” e comprometendo o fluxo para pequenos ramos septais e diagonais, além de estarem associadas a um risco consistente de reestenose ao longo do tempo.

Os autores compararam retrospectivamente pacientes com doença aterosclerótica na DA tratados com uma abordagem baseada em BRM com uma coorte histórica de pacientes que receberam stents farmacológicos convencionais apenas. O estudo foi realizad em duas instituições italianas de 2018 a 2022. Os pacientes do grupo BRM poderiam receber angioplastia apenas com balão ou híbrida (balão e stent farmacológico combinados). Foi realizado escore de propensão (1:1) para ajustar as diferenças basais entre os dois grupos.

Entre os 848 pacientes incluídos (DES, n=701; BRM, n=147), 45% dos pacientes apresentavam comprimento de lesão ≥60 mm. O comprimento mediano tratado foi maior no grupo BRM (65 [40–82] vs 56 [46–66] mm; P = 0,002), enquanto stents farmacológicos mais longos foram implantados no grupo stent (38 [24–62] vs 56 [46–66] mm; P<0,001). Mais de dois terços dos pacientes (70,2%) que receberam tratamento baseado no balão farmacológicos foram submetidos à angioplastia híbrida. Grandes vasos (diâmetro ≥3 mm) foram tratados em 82,2% dos pacientes em geral, enquanto balões eluídos extensos foram utilizados em 36,7% dos pacientes do grupo BRM. Dissecções residuais foram mais comuns após angioplastia por balão (29,3% vs 5,9%; P < 0,001), mas não limitaram o fluxo na maioria dos casos (69,8%).

Após 2 anos, a incidência de falha da lesão-alvo foi de 4,1% na coorte balão e 9,8% na coorte DES, sem diferença significativa observada. No entanto, após o ajuste do escore de propensão, o tratamento baseado no BRM resultou em um risco menor de falha da lesão-alvo (HR 0,2; IC95%, 0,07–0,58; P=0,003), que foi impulsionado principalmente por taxas mais baixas de revascularização da lesão-alvo (HR 0,39; IC95%, 0,19–0,83; P=0,014).

Concluindo, apesar das limitações intrínsecas relacionadas ao seu desenho observacional e retrospectivo, estes achados sobre o uso de balões revestidos com medicamentos na angioplastia de lesões longas e complexas, especialmente na artéria coronária descendente anterior esquerda, abrem novas possibilidades para o tratamento de doenças ateroscleróticas em grandes vasos. A abordagem baseada em BRM, seja puramente com balões ou em combinação híbrida com stents farmacológicos, parece promissora em termos de redução do comprimento do stent necessário e potencialmente menor incidência de reestenose. O estudo de Gitto et al. sugere que a técnica com BRM pode ser mais eficaz do que o uso convencional de stents farmacológicos para tratar lesões longas, com a vantagem de manter a patência dos pequenos ramos e minimizar o comprometimento do fluxo.

Apesar de os resultados serem encorajadores, ainda são necessários mais estudos, especialmente ensaios clínicos randomizados, para validar completamente os benefícios e a segurança dessa abordagem.

Referência

Gitto M, Sticchi A, Chiarito M, Novelli L, Leone PP, Mincione G, Oliva A, Condello F, Rossi ML, Regazzoli D, Gasparini G, Cozzi O, Stefanini GG, Condorelli G, Reimers B, Mangieri A, Colombo A. Drug-Coated Balloon Angioplasty for De Novo Lesions on the Left Anterior Descending Artery. Circ Cardiovasc Interv. 2023 Oct 24:e013232. 

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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