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Características epidemiológicas da dissecção de aorta

Escrito por Ivson Braga

Esta publicação também está disponível em: Português

Apesar de a dissecção de aorta ser uma patologia potencialmente fatal, existem poucos estudos epidemiológicos sobre o tema. Os trabalhos anteriormente publicados fornecem dados imprecisos pela falta de validação dos registros utilizados. A fim de esclarecer as características epidemiológicas da dissecção de aorta, foi publicado recentemente (dezembro 2022) no Circulation, um estudo de coorte retrospectiva na população dinamarquesa que investigou as características clínicas, taxas de incidência e de mortalidade das dissecções de aorta tipo A (TAAD) e tipo B (TBAD), entre os anos de 1996 e 2016. Foi o primeiro estudo de coorte nacional de base populacional sobre o tema.

A coorte utilizou dados do Registro Nacional de Pacientes Dinamarqueses (DNPR) e de outros registros nacionais de saúde. O Registro Nacional de Pacientes da Dinamarca é reconhecido internacionalmente por sua alta qualidade.

Foram estabelecidas 3 coortes:

  1.   Coorte primária de pacientes de casos validados que serviu de base para todas as análises;
  2. Coorte secundária de casos não validados (registros médicos não recuperáveis) que foi utilizada para cálculo das taxas de incidência e frequências de mortalidade em 30 dias.
  3. Terceira coorte de controles da população geral com hipertensão arterial. Os controles foram identificados no DNPR e pareados 1:10 por sexo e idade com os casos validados da coorte primária. A terceira coorte serviu como controle para análises de sobrevivência de 5 anos.

Dos 5018 casos de dissecção de aorta registrados no DNPR entre os anos de 1996 e 2016, foram validados 2719 pacientes para coorte primária. Foram excluídos:

– Pacientes com < 18 anos (6).

– Casos com registros médicos não disponíveis (835).

– Casos registrados como dissecção não confirmados após revisão de prontuário (1160).

– Casos confirmados, porém com divergências entre os registros. (298).

Resumiremos, a partir de agora, os principais resultados do estudo.

Características clínicas da dissecção de aorta

Dos 2719 pacientes validados, 59,6% (1620) tinham dissecção tipo A (TAAD), 38,9% (1059) dissecção tipo B (TBAD) e 1,5% (40) dissecção não especificada (AD não especificada) (P<0,001); O sexo masculino foi mais comum e a dissecção foi mais frequente em pacientes com mais de 60 anos de idade. As mulheres eram significativamente mais idosas que os homens no momento da dissecção. As co-morbidades mais prevalentes foram hipertensão e aneurisma de aorta torácica.

Características epidemiológicas da dissecção de aorta 

A taxa de incidência anual foi de 4,2 por 100.000 pacientes-ano, a qual quase dobrou entre os períodos 1996-2000  e 2011-2016.  A incidência foi significativamente maior para TAAD (2,2/100.000) em comparação com TBAD (1,5/100.000) (P<0,001).

 Mortalidade em 30 dias

As taxas de mortalidade em 30 dias para TAAD e TBAD validados foram respectivamente de 22,0% e 13,9% (P<0,001). A idade avançada foi associada ao aumento da taxa de mortalidade em 30 dias, enquanto não foram observadas diferenças significativas entre homens e mulheres para TAAD (20,9% versus 24,5%; P=0,10) ou TBAD (12,9% versus 15,9%; P =0,19).  Na maioria dos pacientes que morreram de TAAD, o óbito ocorreu nas primeiras 48 horas, enquanto que a morte nos casos de TBAD teve uma distribuição mais linear ao longo dos primeiros 30 dias após a dissecção. Comparado ao grupo controle, a mortalidade em 5 anos, ajustada para sexo, idade, período de tempo e comorbidades, foi maior tanto na  TAAD [HR 3,2 (IC 95%, 2,9 a 3,5; P <0,001)] como na TBAD [HR 2,1 (IC 95%, 1,9 a 2,4; P<0,001)].

Algumas limitações deste estudo:

–  Falta de dados sobre a letalidade por morte súbita fora do hospital;

– Alguns dados validados não foram incluídos nas análises;

– Falta de registro de algumas comorbidades como hipertensão e diabetes com os seus códigos diagnósticos CID-10 aos registros nacionais;

– O fato de ter sido retrospectivo.

Um dado novo: nos pacientes que sobreviveram em 30 dias, a mortalidade em 5 anos por todas as causas para TAAD foi comparável àquela da população geral com hipertensão arterial, enquanto que para TBAD, a mortalidade foi significativamente maior. Este achado levanta a possibilidade do benefício da abordagem mais agressiva das dissecções tipo B, diferente do que é atualmente recomendado. Novos estudos devem esclarecer melhor se uma abordagem mais invasiva deve ser priorizada nas dissecções tipo B.  (Se quiser saber mais sobre esta questão, confira em: https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/disseccao-de-aorta-tipo-b-quando-intervir/)

Referências

Obel LM, Lindholt JS, Lasota AN, Jensen HK, Benhassen LL, Mørkved AL, Srinanthalogen R, Christiansen M, Bundgaard H, Liisberg M. Clinical Characteristics, Incidences, and Mortality Rates for Type A and B Aortic Dissections: A Nationwide Danish Population-Based Cohort Study From 1996 to 2016. Circulation. 2022 Dec 20;146(25):1903-1917. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.122.061065. (https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIRCULATIONAHA.122.061065?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed)

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