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Mais uma medicação contra aterosclerose falhou: veja qual é!

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Infelizmente, outra opção potencial para pacientes com aterosclerose não conseguiu demonstrar eficácia clínica.

A empresa referência em biotecnologia CSL anunciou essa semana os principais resultados do ensaio clínico de fase 3 AEGIS-II que avalia a eficácia e a segurança do CSL112 (apolipoproteína AI [humana]) comparado ao placebo na redução do risco de eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE) em pacientes após um infarto agudo do miocárdio (IAM). O estudo não atingiu seu objetivo primário de eficácia de redução de MACE em 90 dias. Como resultado, não há planos para um registro regulatório no curto prazo. Não houve grandes preocupações de segurança ou tolerabilidade com o CSL112.

O que é o CSL112?

O CSL112 é um tratamento experimental inovador que está sendo estudado para pacientes que sofreram um infarto agudo do miocárdio (IAM), com o objetivo de reduzir o risco de eventos cardiovasculares recorrentes. O CSL112 é uma formulação de ApoA-I recombinante humana, derivada de plasma humano. A ApoA-I desempenha um papel crucial no metabolismo do colesterol, facilitando o processo de transporte reverso de colesterol (ou “efluxo de colesterol”), pelo qual o colesterol é removido das células periféricas e transportado de volta ao fígado para excreção. Esse processo é vital para a manutenção da saúde cardiovascular, pois ajuda a reduzir o acúmulo de placas ateroscleróticas nas paredes arteriais, um fator de risco chave para doenças cardiovasculares como o IAM.

 

Qual o racional clínico em se utilizar o CSL112?

Após um IAM, o risco de eventos cardiovasculares adicionais é significativamente elevado, especialmente nas primeiras semanas (risco residual). O CSL112 é projetado para melhorar a função do HDL e acelerar a remoção do colesterol das artérias. A hipótese é que, ao melhorar a capacidade do HDL de remover o colesterol das placas, pode-se estabilizar as placas ateroscleróticas, reduzir a inflamação e diminuir o risco de eventos subsequentes.

O que é o estudo AEGIS-II?

O AEGIS-II é um estudo de fase 3 que visa avaliar a eficácia e segurança do CSL112 em pacientes pós-IAM. Os participantes recebem o medicamento por infusão intravenosa, além do tratamento padrão para IAM. O desfecho primário é a redução de eventos cardiovasculares maiores, como morte por causas cardiovasculares, novo infarto, derrame ou hospitalização por instabilidade anginal. Seus resultados serão apresentados no próximo congresso ACC 2024, no dia 06 de abril.

Perspectivas

Isso destaca ainda mais a importância e a dificuldade de observar benefícios clínicos na aterosclerose. Eis algumas considerações e desafios associados ao desenvolvimento de terapias focadas em alvos específicos do processo aterosclerótico:

  1. Complexidade da Aterosclerose: A aterosclerose é um processo multifatorial envolvendo lipídios, inflamação, disfunção endotelial e fatores genéticos. Ou seja, resulta de uma combinação de múltiplas vias fisiopatológicas. Esse resultado negativo reforça a complexidade da doença e a dificuldade de intervir eficazmente em um único ponto de seu processo patológico. Isso sugere a necessidade de abordagens terapêuticas multimodais ou a identificação de subgrupos de pacientes que possam se beneficiar de intervenções específicas.
  2. Seleção de Alvos Terapêuticos: O resultado pode levantar questões sobre a validade do alvo terapêutico. No caso do CSL112, focar na função do HDL e no transporte reverso de colesterol pode não ser suficiente por si só para reduzir o risco de eventos subsequentes, indicando a necessidade de reavaliar os mecanismos pelos quais buscamos modificar o risco cardiovascular.
  3. Eficácia das Terapias Existentes: Muitos pacientes em estudos de doença cardiovascular estão recebendo tratamentos padrão otimizados, incluindo estatinas, que já reduzem significativamente o risco de eventos. Isso pode elevar o limiar para demonstrar benefício adicional de novas terapias.
  4. Desafios no Desenvolvimento de N0vas Drogas Anti-Aterosclerose: O fracasso de terapias inovadoras, como o darapladibe (um inibidor de Lp-PLA2) e inibidores de CETP, por exemplo, em demonstrar redução de eventos cardiovasculares em ensaios clínicos, sublinha os desafios inerentes ao desenvolvimento de medicações que visam processos específicos da aterosclerose.

Este resultado “negativo” não significa o fim da pesquisa desta área específica, mas sim, uma oportunidade para revisar e ajustar a abordagem, talvez focando em combinações de terapias ou em populações de pacientes mais específicas, que poderiam se beneficiar de intervenções direcionadas.

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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