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Existe insuficiência cardíaca com fração de ejeção “aumentada”?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

A insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEp) é uma síndrome heterogênea causada por uma multiplicidade de diferentes mecanismos fisiopatológicos. Você já sabe que as respostas biológicas e o tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFEr) e ICFEp são diferentes. Mas, você já ouviu falar em pacientes com IC com FE “supranormal” (maior que a faixa normal)? Estes pacientes muitas vezes não são tão bem avaliados. No entanto, como a FE tem um espectro contínuo, é possível que seus mecanismos, apresentação clínica, prognóstico e resposta ao tratamento possam diferir em comparação com pacientes com FE “normal”.

Um estudo recente comparou as características basais e o prognóstico entre pacientes com fração de ejeção supranormal (>65%) e aqueles de pacientes com fração de ejeção normal (50%–65%) em um registro japonês de pacientes hospitalizados por insuficiência cardíaca. As características clínicas desses dois grupos foram em sua maioria semelhantes, embora os pacientes com FE supranormal fossem um pouco mais velhos, mais frequentemente mulheres, menos propensos a terem doença isquêmica do coração, e tivessem níveis mais baixos de peptídeo natriurético. O risco de morte cardiovascular ou hospitalização por insuficiência cardíaca foi semelhante entre os grupos de FE normal e supranormal, embora após ajuste multivariado, o risco de hospitalização por insuficiência cardíaca foi menor naqueles com FE supranormal. É importante ressaltar que este estudo não avaliou se a FE supranormal está associada a maior risco de insuficiência cardíaca. A IC com FE supranormal também foi associada a um risco aumentado de morte por todas as causas naquelas com disfunção renal.

A mensagem deste grande estudo epidemiológico de pacientes com IC e FE supranormal é que esses pacientes possuem características clínicas e prognósticos em geral semelhantes àqueles com FE normal. No entanto, também apoiam a o fato de que nem toda ICFEp é igual, com algumas subpopulações específicas associadas a piores desfechos.

Pontos Fortes:

  • O estudo tem uma amostra significativa e representativa (11.573 pacientes).
  • Ele faz uma análise detalhada de categorias de IC pouco exploradas anteriormente.
  • Foi utilizada análise multifatorial (Cox regression) para evitar fatores de confusão.
  • O estudo tem um longo período de seguimento mediano (870 dias), que proporciona uma boa visão das tendências de longo prazo na evolução dos pacientes.

Pontos Fracos:

  • Como é baseado em um registro hospitalar, pode sofrer de viés de seleção, pois tende a incluir apenas os casos mais graves que requerem hospitalização e não avaliar pacientes ambulatoriais.
  • Estudo restrito à população japonesa e podem não ser generalizável.
  • Não se avaliou potenciais tratamentos diferentes entre os grupos de IC com FE normal e supranormal, o que pode influenciar desfechos.

Referência

Horiuchi Y, Asami M, Ide T, et al. Prevalence, characteristics and cardiovascular and non-cardiovascular outcomes in patients with heart failure with supra-normal ejection fraction: Insight from the JROADHF study. Eur J Heart Fail. 2023 May 16. doi: 10.1002/ejhf.2895. Epub ahead of print.

 

 

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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