Arritmia

Nova Tecnologia de Ablação de Fibrilação Atrial, Você Conhece?

Escrito por Pedro Veronese

Esta publicação também está disponível em: Português

Em maio de 2023 foi publicado o PULSED AF Pivotal Trial (Pulsed field ablation for the treatment of atrial fibrillation), um estudo que apresentou uma nova tecnologia para isolamento das veias pulmonares (ablação) em pacientes com fibrilação atrial (FA), desenvolvida pela Medtronic (empresa que financiou o trial).

A tecnologia de “pulsed field ablation” (PFA) usa pulsos elétricos para causar eletroporação não térmica irreversível e induzir morte da célula cardíaca. A hipótese dos autores é de que a PFA pode ter efetividade comparável à ablação por cateter tradicional, porém prevenindo complicações térmicas.

Esse estudo foi prospectivo, global, multicêntrico, não-randomizado, com um único braço. 150 pacientes sintomáticos com FA paroxística (FApx) e 150 com FA persistente (FApers), refratários a pelo menos antiarrítmico da classe I ou III, foram submetidos a PFA. Eles foram seguidos por 1 ano com monitoramento telefônico, realização de ECGs e Holters.

O endpoint primário de efetividade foi um desfecho composto caracterizado por: pacientes livre de falência aguda do procedimento (ex. não isolamento das veias pulmonares), recorrência da arritmia, incremento no uso de antiarrítmicos ao longo de 12 meses. O endpoint primário de segurança foi um desfecho composto caracterizado por: pacientes livre de eventos adversos graves relacionados ao procedimento e/ou tecnologia (ex. acidente vascular cerebral – AVC, tamponamento cardíaco etc).

Quais foram os resultados?

A PFA mostrou ser efetiva em um ano. O desfecho primário ocorreu em 66,2% (IC 95%, 57,9 a 73,2) dos pacientes com FApx e 55,1% (IC 95%, 46,7 a 62,7) dos pacientes com FApers. O end point primário de segurança ocorreu em 1 paciente com FApx (AVC) e em 1 paciente com FApers (tamponamento cardíaco) – 0,7%; IC 95%, 0,1 a 4,6.

Conclusão dos autores:

PFA demonstrou uma baixa taxa de eventos adversos de segurança (0,7) e forneceu eficácia consistente com tecnologias de ablação estabelecidas, usando uma nova energia de eletroporação irreversível para tratar pacientes com FA.

O que há de novo?
  1. A eletroporação (emissão de pulsos elétricos) é uma tecnologia nova, não térmica, que produz lesão irreversível do cardiomiócito e que pode melhorar a segurança e eficácia da ablação por cateter de FA.
  2. Esse estudo mostrou resultados de eficácia semelhantes as tecnologias térmicas utilizadas atualmente.
  3. Mostrou baixa incidência de complicações relacionadas ao procedimento, não havendo estenose de veia pulmonar, lesão do nervo frênico ou lesão esofágica.
Quais as Implicações clínicas?
  1. PFA pode proporcionar um método mais eficiente e seguro de ablação por cateter em pacientes com FApx e FApers.
  2. A eficácia da PFA parece ser consistente com a dos tradicionais métodos térmicos atuais.
  3. O procedimento tende a ser mais rápido (cerca de 1h de duração), menos complexo e sem necessidade de anestesia geral com essa tecnologia.

Comentário Cardiopapers:

Essa tecnologia mostra eficácia semelhante aos métodos térmicos tradicionais e amplamente empregados na atualidade. Veja que as taxas de recorrência, insucesso e intensificação no uso de antiarrítmicos ainda são altas em um ano (desfecho primário): 33,8% para FApx e 44,9% para FApers.

E em 10 anos? Veja que a média de idade dos pacientes foi 63 anos e 66 anos, respectivamente. 

 

Referência:

  1. Verma A, Haines DE, Boersma LV; PULSED AF Investigators. Pulsed field ablation for the treatment of atrial fibrillation: PULSED AF pivotal trial. Circulation2023;Mar 6:Epub ahead of print.

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

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