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Colesterol HDL alto: quanto maior melhor? Não é bem assim…

Escrito por Humberto Graner

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Que o HDL é classicamente chamado de “colesterol bom”, todos sabem! Seria então o colesterol HDL alto um preditor de menor mortalidade? 

Numerosos estudos demonstraram uma relação inversa entre o HDL e o risco cardiovascular: quanto menores seus níveis, maior é o risco de incidência de doenças ateroscleróticas, por exemplo. Por outro lado, níveis mais altos desta lipoproteína são muitas vezes vistas como protetores. No entanto, os tratamentos farmacológicos que tiveram por meta aumentar os níveis de HDL (por exemplo, niacina, ou inibidores da CETP) não conseguiram provar benefício em reduzir o risco de eventos cardiovasculares, alguns até mesmo com sinais de possível dano. (para mais detalhes, confira em https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/o-papel-hdl-colocado-em-xeque/) 

Mas e se o HDL estiver muito alto?

Ao longo do tempo, pouca atenção foi dada àqueles com níveis muito altos de HDL, e estudos mais recentes em populações saudáveis começaram a sugerir que possa haver uma associação paradoxal com maior mortalidade nesse grupo.

Para verificar melhor essas observações, pesquisadores examinaram os dados de duas coortes prospectivas, acompanhadas no Reino Unido e nos EUA, para verificar a associação entre o nível de HDL muito alto (definida como maior que 80 mg/dL) e a mortalidade em pacientes com doença arterial coronária (DAC).

Tanto entre os 14.500 ingleses (idade média 62 anos; 76% homens) quanto os 5.500 norte-americanos (idade média 64 anos; 66% homens) incluídos no estudo, houve uma associação em forma de “U” entre nível de HDL e mortalidade.

Ou seja, comparado a níveis de HDL entre 40-60 mg/dL, aqueles com valores mais baixos (≤30 mg/dL) ou  mais elevados (>80 mg/dL) apresentaram risco significativamente maior de morte cardiovascular e morte por todas as causas.

Na população do Reino Unido, por exemplo, após ajuste para os fatores de confusão, pacientes com HDL >80 mg/dL tiveram um risco de morte 70% maior do que aqueles com níveis médios. Curiosamente, este risco foi maior entre os homens do que entre as mulheres.

Esses achados sugerem que níveis muito elevados de HDL estão paradoxalmente associados a maior mortalidade em indivíduos com DAC.

Tanto níveis muito baixos ou muito altos de HDL devem servir como um alerta para o clínico, sinalizando que o paciente possa estar em maior risco. Isso deve instigar o médico a instituir estratégias mais agressivas de prevenção, seja no controle do peso, pressão arterial, ou mesmo os níveis de LDL.

Ao avaliarmos um paciente com HDL muito elevado, devemos mudar a abordagem de “seu colesterol ‘bom’ é excelente, está muito alto” para “seu HDL é muito elevado, e nós vamos acompanhar isso mais de perto!

Por enquanto, tanto tratamentos que aumentem ou reduzam o HDL não são indicados.

Referência:

Liu C, Dhindsa D, Almuwaqqat Z, et al. Association Between High-Density Lipoprotein Cholesterol Levels and Adverse Cardiovascular Outcomes in High-risk Populations. JAMA Cardiol. Published online May 18, 2022. doi:10.1001/jamacardio.2022.0912 https://jamanetwork.com/journals/jamacardiology/article-abstract/2792282

 

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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