Coronariopatia Miscelânia

Cuidado com a doença arterial coronariana em mulheres jovens!

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

A manifestação da doença arterial coronariana (DAC) apresenta diferenças importantes entre homens e mulheres. Essas diferenças podem ser observadas em quatro áreas-chave: prevalência, sintomas, fatores de risco e resposta ao tratamento.

  1. Prevalência: Os homens, em geral, enfrentam maior probabilidade de desenvolver DAC em idades mais precoces quando comparados às mulheres. Isso ocorre parcialmente devido aos efeitos protetores do estrogênio, hormônio predominante nas mulheres em idade fértil. Contudo, após a menopausa e a consequente diminuição dos níveis de estrogênio, a incidência de DAC em mulheres aumenta e torna-se análoga à dos homens.

  2. Sintomas: Mulheres têm maior propensão a apresentar sintomas atípicos de DAC, o que pode gerar desafios como demora no diagnóstico ou até mesmo a falta de reconhecimento da condição nelas.

  3. Fatores de risco: Os fatores de risco comuns para DAC, como tabagismo, hipertensão, diabetes, obesidade, histórico familiar da doença e estresse, são similares em ambos os sexos. Entretanto, a menopausa é um fator de risco adicional que impacta exclusivamente as mulheres.

  4. Resposta ao tratamento: As diferenças entre homens e mulheres também abrangem a resposta terapêutica. Estudos apontam que mulheres podem ter desfechos menos favoráveis após intervenções coronarianas percutâneas (ICP) e cirurgias de revascularização do miocárdio (CRM). As causas dessas diferenças não são totalmente compreendidas, mas podem estar relacionadas a contrastes anatômicos, hormonais e fisiológicos. Além disso, sabe-se que mulheres tendem a apresentar prognósticos piores durante internações hospitalares em comparação aos homens após um episódio de infarto agudo do miocárdio (IAM). No entanto, ainda é incerto se elas têm maior risco de re-hospitalizações após a alta hospitalar.

Ou seja, seria o risco residual diferente entre homens e mulheres? 

Uma análise recente do estudo  VIRGO (Variation in Recovery: Role of Gender on Outcomes of Young AMI Patients) mostrou que, após um episódio de IAM, as mulheres jovens (18-55 anos) apresentaram maior propensão à reinternação do que os homens. Este estudo incluiu pacientes jovens (18 a 55 anos) com IAM em 103 hospitais dos EUA entre 2008 e 2012. Foram avaliadas diferenças entre os sexos nas hospitalizações por todas as causas e causas específicas, comparadas por meio das taxas de incidência (IR por 1.000 pessoas-ano). As diferenças entre os sexos também foram analisadas usando taxas de risco de subdistribuição (SHR) para mortes.

Dos 2.979 participantes, 2.007 eram mulheres, 972 eram homens, a idade média foi de 47,1 ± 6,2 anos, 17,5% se identificaram como negros não hispânicos e 70% como brancos não hispânicos. A duração mediana do seguimento foi de 365 dias.

  • Nos 12 meses seguintes ao  IAM, 30,4% tiveram pelo menos uma internação.
  • A maioria das internações foi relacionada a eventos coronarianos: IR, 171,8 (IC95%, 153,6-192,2) entre mulheres vs. IR, 117,8 (IC95% 97,3-142,6 entre homens).
  • As taxas de hospitalização não cardíaca foram IR 145,8 entre mulheres vs. IR 69,6 entre os homens.
  • As mulheres tiveram taxas mais altas de hospitalizações com o com SHR = 1,33 (IC 95%, 1,04-1,70; p = 0,02) para hospitalizações relacionadas a coronárias, e SHR = 1,51 (IC 95%, 1,13-2,07; p = 0,01) para hospitalizações não cardíacas.

Os autores concluíram que as mulheres jovens tinham taxas mais altas de internações do que os homens após um episódio de IAM, e a diferença nas hospitalizações de causas não cardíacas era mais significativa.

Este estudo reforça o entendimento de que, embora a incidência de IAM seja maior entre homens, as mulheres possuem um prognóstico pior a médio prazo (1 ano), sobretudo jovens. O entendimento dessas diferenças é crucial para garantir que os cuidados de saúde sejam personalizados e eficazes. Estudos futuros precisam determinar as várias razões médicas, sistêmicas e psicossociais subjacentes que influenciam nesses resultados. Ademais, por ora, devemos estar conscientes dessas variações e considerá-las ao diagnosticar e tratar pacientes jovens com DAC. O manejo adequado da doença é crítico para ambos os sexos, mas devem ser ajustado às necessidades individuais do paciente, considerando seu perfil de risco, histórico médico e características pessoais.

 

Referência:

Sawano M, Lu Y, Caraballo C, et al. Sex Difference in Outcomes of Acute Myocardial Infarction in Young Patients. J Am Coll Cardiol 2023;81:1797-1806.

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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