Coronariopatia Não categorizado

Dissecção espontânea de coronárias e gestação

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A dissecção espontânea de artéria coronária (sigla em inglês – SCAD) é definida como uma dissecção da coronária epicárdica que não está associada a aterosclerose, trauma ou iatrogenia. Ocorre predominantemente em mulheres, é uma das principais causas de infarto agudo do miocárdio (IAM) associado à gestação (P-SCAD) e também uma causa pouco estudada de óbito materno. Já fizemos uma revisão sobre SCAD nesse post (https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/revisao-disseccao-coronariana/) e discutimos sobre dissecção espontânea de coronárias e gestação nesse post (https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/disseccao-coronaria-espontanea-existe-diferenca-entre-ocorrencia-relacionada-ou-nao-gestacao/).

Em julho de 2022, foi publicada uma Research Letter no Circulation com o objetivo de descrever a apresentação clínica e o manejo de P-SCAD em sobreviventes e não-sobreviventes e avaliar os desfechos das gestações em mulheres com SCAD prévia. Foram analisados os dados dos registros europeus de SCAD entre 1984 e 2021.

No grupo P-SCAD foram incluídas 82 pacientes com dissecção espontânea de coronárias e gestação confirmada por cinecoronariografia. Os casos eram diagnosticados durante a gestação ou até 12 meses após o parto, aborto ou interrupção da gestação. A mediana de idade foi de 36 anos e 94% nunca fumaram ou eram ex-fumantes.

Principais dados encontrados:

  • A maioria dos casos ocorre nos primeiros 6 meses após o parto, sendo o pico no primeiro mês. Apenas 5 casos ocorreram durante a gestação.
  • Pacientes se apresentam com quadro de alto risco: aproximadamente 50% se apresentam com IAM com supra, 38% apresentaram acometimento de segmentos coronarianos proximais no CATE e 20% de acometimento multiarterial.
  • A maioria (56%) foi tratada clinicamente, 32% foram submetidas a angioplastia e apenas 12% a revascularização cirúrgica do miocárdio. A mediana do uso de stents nas pacientes tratadas com ICP foi de 3 e a artéria mais comumente tratada foi a artéria descendente anterior. A taxa de complicações da ICP em P-SCAD foi de 40%.

No grupo de gestações após SCAD prévia foram incluídas 37 gestações de 28 pacientes que reportaram uma gestação subsequente a um quadro de SCAD confirmada angiograficamente.

  • De 37 gestações, 3 mulheres optaram por interromper a gestação por alto risco e ocorreram 7 abortos espontâneos em 3 pacientes;
  • A mediana para a concepção foi de 2,5 anos e a mediana de gestação foi de 39 semanas;
  • Eventos cardio e cerebrovasculares adversos maiores associados a gestação ocorreram em 3 pacientes (8%), sendo 2 recorrência de SCAD e 1 com IAM e possível SCAD.

 

No grupo de pacientes com P-SCAD que não sobreviveram, foram incluídas 13 pacientes. A maioria dos óbitos (77%) ocorreu no pós-parto (mediana de 16 dias), sendo que 12 pacientes tiveram parada cardio-respiratória em ambiente extra-hospitalar. Nos dados de necropsia, os segmentos coronarianos proximais e a artéria descendente anterior foram os mais comumente acometidos.

Embora seja um estudo observacional, sujeito a vieses de seleção e com um número relativamente pequeno de pacientes, este estudo fornece dados epidemiológicos interessantes, alertando para ocorrência de P-SCAD principalmente nos primeiros 6 meses após o parto e uma taxa de recorrência de aproximadamente 10% em mulheres com SCAD prévia.

 

REFERÊNCIA

Chan N, Premawardhana D, Al-Hussaini A, Wood A, Bountziouka V, Kotecha D, Swahn E, Palmefors H, Pagonis C, Lawesson SS, Kądziela J, Garcia-Guimarães M, Alfonso F, Escaned J, Macaya F, Santás M, Cerrato E, Maas AHEM, Hlinomaz O, Bogale N, Cortese B, Cheng M, Bolger A, Hussain ST, Samani NJ, Knight M, Cauldwell M, Adlam D. Pregnancy and Spontaneous Coronary Artery Dissection: Lessons From Survivors and Nonsurvivors. Circulation. 2022; 146(1):69-72. (https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/CIRCULATIONAHA.122.059635?rfr_dat=cr_pub++0pubmed&url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori%3Arid%3Acrossref.org)

 

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Sobre o autor

Fábio Augusto Pinton

- Especialista em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista pelo InCor - FMUSP e pela Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista
- Especialista em Cardiologia pelo InCor - FMUSP e pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)
- Sócio Titular da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI)
- Cardiologista Intervencionista do Hospital Sírio-Libanês, da Santa Casa de São Paulo e do Hospital Samaritano de Campinas

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