Arritmia ECG

Onda U continua um enigma da eletrocardiografia! Fato ou Mito?

Escrito por Pedro Veronese

Esta publicação também está disponível em: Português

A onda U pode ser um achado eletrocardiográfico normal, principalmente em paciente jovens e vagotônicos. Neste cenário, geralmente são vistas nas derivações precordiais de V2-4, sempre têm a mesma polaridade da onda T, mas com menor amplitude. Entretanto, a onda U pode estar presente em condições patológicas, sendo a hipocalemia, o exemplo mais frequente da prática clínica. Quando a onda U é maior que a T e/ou tem polaridade diferente da onda T, ela é sempre patológica.

Os cursos de ECG ensinam que onda U não tem uma origem totalmente estabelecida até o momento, porém há algumas teorias que tentam explicar a sua gênese:

  1. Ela estaria relacionada à repolarização dos músculos papilares;
  2. Ou à repolarização das células M (no interior do miocárdio),
  3. Ou à repolarização das fibras de Purkinje.

Um artigo recentemente publicado no Journal of Electrocardiology, volume 79, july-August 2023, Pages 13-20, fez uma revisão sobre a onda U, assim como sobre a sua origem eletrofisiológica. As principais teorias descritas pelos autores sobre a origem da onda U são:

  1. Teoria da repolarização atrasada (retardada) e/ou despolarização tardia:

Síndrome dos músculos papilares significa que a onda U representa a repolarização atrasada dos músculos papilares e das estruturas que os circundam. Watanabe propôs que a onda U estaria relacionada à repolarização do sistema de fibras de Purkinje subendocárdico. A repolarização atrasada também poderia ser causada pela despolarização tardia dos músculos papilares e estruturas miocárdicas subjacentes que causam um atraso no início do potencial de ação (PA) quando se compara as camadas de células endocárdicas e epicárdicas.

  1. Teoria da repolarização prolongada:

Esta teoria sugere que ondas U normais estão relacionadas à ativação elétrica das células M, que se encontram no meio do miocárdio ventricular, visto que o PA destas células dura além do final da onda T. As células M são mais comuns que as fibras de Purkinje e representam 30-40% da massa celular do ventrículo esquerdo. As células M que estão acopladas ao endocárdio e epicárdio provavelmente desempenham um papel na gênese das ondas U patológicas (ex. hipocalemia e SQTL).

  1. Teoria do alongamento (estiramento) elétrico-mecânico.

Surawicz e cols. propuseram em 1998 que a real origem da onda U era um fenômeno elétrico-mecânico, mas as evidências desta teoria ainda são escassas. De acordo com os autores, a onda U se originaria do PA causado pelo alongamento (estiramento) mecânico durante o relaxamento ventricular, após a completa repolarização miocárdica.

 

Como demonstrado acima, os mecanismos fisiológicos e fisiopatológicos que explicam a gênese da onda U ainda não são totalmente conhecidos, nem aqueles responsáveis pelas ondas U normais, nem aqueles pelas ondas U anormais e suas variações.

Uma onda U negativa ou a modificação na sua morfologia pode indicar isquemia miocárdica, hipertrofia ventricular esquerda ou sobrecargas, como as que ocorrem na hipertensão arterial sistêmica e estenose aórtica. Uma onda U negativa é também um marcador de pior prognóstico em homens, tanto para morte cardíaca como para morte por todas as causas.

 

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

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