Coronariopatia

Ponte miocárdica: o que é e quão frequente acontece?

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O músculo cardíaco é irrigado pelas artérias coronárias, que são vasos epicárdicos. Ponte miocárdica é uma anomalia congênita na qual um segmento da artéria coronária percorre um trajeto intramiocárdico com extensão e profundidade variáveis, ao invés de percorrer o seu trajeto epicárdico normal.

Sua real prevalência é desconhecida pois varia de acordo com o método utilizado para detectar essa variante anatômica. Em estudos com angiotomografia coronariana a prevalência encontrada foi ao redor de 16-22%, chegando até a 80% em estudos de necropsia. Estima-se que essa anomalia esteja presente em 25% da população.

Dica:

  • Embora a ponte miocárdica possa ser encontrada em qualquer artéria coronária, o acometimento mais comum é na artéria descendente anterior.

O quadro clínico de pacientes com ponte miocárdica é bem variado. Na maioria das vezes, a ponte miocárdica é um achado incidental e o paciente não apresenta sintomas. No entanto, pacientes com ponte miocárdica podem se apresentar com isquemia silenciosa, angina estável, síndromes coronarianas agudas e existem relatos de arritmias ventriculares e até mesmo de morte súbita.

O diagnóstico é realizado através de exames de avaliação anatômica (cinecoronariografia, angiotomografia de coronárias), podendo ser complementados com provas funcionais.

Na cinecoronariografia, a ponte miocárdica aparece como um estreitamento de um segmento da artéria coronária durante a sístole ou sinal de “ordenha” do vaso, com uma descompressão completa ou parcial na diástole, que pode ser exacerbada com nitrato intracoronário (vídeo).

Exemplos de ponte miocárdica na artéria descendente anterior:

https://youtu.be/oqBWPPLRcds

O ultrassom intracoronário também é uma ferramenta que pode ser útil na investigação, aumentando a taxa de detecção de ponte miocárdica e melhor caracterizando seu comprimento, espessura e localização, auxiliando também na detecção de doença aterosclerótica na ponte ou adjacente a ela não detectada pela cinecoronariografia.

A angiotomografia de coronárias também contribuiu para o diagnóstico e caracterização da ponte miocárdica, pois possibilita a visualização do lúmen, da parede da artéria e do miocárdio, sendo portanto mais acurada que a cinecoronariografia.

A avaliação funcional pode ser realizada de maneira invasiva (FFR / iFR) ou não invasiva.

O FFR é calculado pela relação da PA média distal à lesão com a PA média da raiz da aorta. Em artérias com ponte miocárdica há um aumento da PA sistólica distal à ponte quando comparado à pressão proximal, devido ao “overshooting” da PA sistólica, causada pela compressão da artéria. Isso pode causar uma elevação errônea da PA média utilizada no cálculo do FFR tradicional, subestimando o real significado fisiológico da ponte miocárdica. Recomenda-se realizar o FFR calculando a relação da PA diastólica e utilizando dobutamina como estresse farmacológico.

Já o iFR utiliza a pressão no período livre de ondas na diástole do ciclo cardíaco, não sofrendo influência da PA sistólica.

Dica:

  • O iFR apresenta melhor correlação com provas funcionais não-invasivas quando comparado ao FFR tradicional.

Os métodos não invasivos como cintilografia miocárdica, ecocardiograma de estresse e ressonância magnética cardíaca também podem ser utilizados para avaliar o significado funcional da ponte miocárdica, devendo ser realizados com esforço físico ou farmacológico com dobutamina.

Nos próximos post vamos discutir o tratamento.

 

 

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Sobre o autor

Fábio Augusto Pinton

- Especialista em Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista pelo InCor - FMUSP e pela Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista
- Especialista em Cardiologia pelo InCor - FMUSP e pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)
- Sócio Titular da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI)
- Cardiologista Intervencionista do Hospital Sírio-Libanês, da Santa Casa de São Paulo e do Hospital Samaritano de Campinas

4 comentários

  • Muito boa a sua resentaçao. Eu tenho ponte intra- miocárdica e angina, meio, controlada com betabloqueadores. O cardiologista, em Curitiba me diz que não tem cura e que não existe cirurgia corretiva. Subir 1 andar pelas escadas é suficiente para sentir a dor no peito. Gostaria de procurar a correção. É isso possível?

  • Boa Noite tudo bem?
    Então eu fiz um exame é constatou que eu tenho aterosclerose coronariana discreta ponte intramiocardica em DA, vai fazer dois anos e os cardiologistas me mandaram procurar um psiquiatra preciso de ajuda é perigoso?

    • Creio que a questão do psiquiatra é porque a ansiedade ou nervosismo além do comum, ou normal, pode causar aumento das anginas. Acelerar os batimentos e por aí vai… É importante fazer um tratamento multifatorial… Apenas cuide-se, faça seu acompanhamento, tente se aalimentar melhor, veja a possibilidade junto com seu médico de praticar atividade física .

  • Olá boa noite! Faz uns 8 anos que descobri ser portadora de ponte miocárdio,quando criança eu lembro nunca conseguir brincar direito com minhas coleguinhas ,é brincar de mancha esse tipo de brincadeira ,sempre cansada ,passando mal e etc…mas acho que minha nunca imaginou isto que seria algo relativo ao coração como eu também ,até dispensada da educação física fui por passar mal. Então estou com 50 anos e só 8 anos atrás descobri por passar mal ,fiz um cateterismo tomo meus remédios mas mesmo assim sinto as mesmas coisas , dores e pra acabar de completar estou com insuficiência cardíaca.

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