Coronariopatia Prevenção

Aspirina de liberação entérica é melhor para o paciente?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Geralmente, recomedamos aspirina ou ácido-acetilsalicílico de liberação entérica (ou revestidos) para diminuir sintomas e risco de sangramento gastrintestinal, embora estudos de bancada sugiram que a inibição plaquetária possa estar diminuída com essas formulações ditas “protetoras”. Mas será que aspirina de liberação entérica é mesmo melhor para o paciente?

Um estudo recente, parte da análise secundária do ensaio clínico ADAPTABLE (Aspirin Dosing: A Patient-Centric Trial Assessing Benefits and Long-term Effectiveness), avaliou a eficácia e a segurança da aspirina revestida ou de liberação entérica (enteric-coated) em comparação com a aspirina não revestida na prevenção secundária de doença arterial coronária. O estudo envolveu 15.076 pacientes com doença cardiovascular aterosclerótica, inscritos entre 19 de abril de 2016 e 30 de junho de 2020.

Qual foi o objetivo e desenho do estudo?

O objetivo foi avaliar se a aspirina revestida é mais eficaz ou segura do que as formulações comuns. Os participantes do estudo ADAPTABLE foram reagrupados de acordo com a formulação de aspirina auto-relatada no início do estudo, com um acompanhamento médio de 26,2 meses.

Quais foram os principais resultados?

De 10.678 participantes (idade média 68 anos; 68,2% homens), 69,0% usaram aspirina de liberação entérica e 31,0% usaram aspirina não revestida. Não houve diferença significativa na eficácia ou segurança entre os dois grupos. A razão de risco ajustada para eventos como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral ou morte foi semelhante entre os dois tipos de aspirina. Da mesma forma, os riscos de sangramento maior não diferiram significativamente entre os grupos.

Conclusões e Relevância Clínica

A análise do ADAPTABLE indica que a aspirina revestida não está associada a um risco menor de sangramentos, tampouco aumenta as chances de eventos como infarto do miocárdio, AVC ou morte, independentemente da dose. Embora seja uma análise secundária, e o intervalo de confiança para redução de sangramentos tenha sido limítrofe a favor da aspirina de liberação entérica, mais pesquisas seriam necessárias para confirmar se as formulações de aspirina revestida ou novas formulações melhorarão os resultados nesta população.

Nada muda por enquanto: você pode prescrever tranquilamente as formulações de liberação entérica sem a preocupação de que isso possa afetar os resultados nos seus pacientes.

Referência

A Sleem, MB Effron, A Stebbins, et al. Effectiveness and Safety of Enteric-Coated vs Uncoated Aspirin in Patients With Cardiovascular Disease: A Secondary Analysis of the ADAPTABLE Randomized Clinical Trial. JAMA Cardiol 2023 Nov 01;8(11)1061-1069.

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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