Insuficiência Cardíaca Nefrologia

Devo suspender dapagliflozina no paciente com IC e deterioração da função renal?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Estudos recentes como o DAPA-CKD e o EMPA-KIDNEY demonstraram benefícios dos inibidores da SGLT2 em pacientes com doença renal crônica mais avançada, incluindo aqueles com taxas de filtração glomerular estimada (TFGe) tão baixas quanto 25 mL/min/1,73 m². Os inibidores da SGLT2 mostraram não apenas melhorar o controle glicêmico, mas também oferecer proteção renal e cardiovascular, retardando a progressão da doença renal e reduzindo o risco de eventos cardiovasculares importantes.

Mas, nos pacientes com insuficiência cardíaca, para os quais os inibidores da SGLT2 se tornaram um dos pilares do tratamento, o que fazer quando a função renal se deteriora com o tempo? Esta é uma preocupação comum, não só do ponto de vista de segurança como eficácia.

Para responder esta pergunta um grupo de pesquisadores avaliaram como a continuação do uso de dapagliflozina em pacientes com IC impactava nos resultados, mesmo quando a taxa de filtração glomerular caía para abaixo dos limiares recomendados para início do tratamento.

A pesquisa analisou dados de 11.007 pacientes de dois estudos importantes, DAPA-HF e DELIVER, concentrando-se naqueles cuja TFGe caiu para menos de 25 mL/min/1,73 m². Os pesquisadores utilizaram modelos de risco proporcionais de Cox para avaliar a associação entre a deterioração da TFGe, eficácia e segurança do tratamento com dapagliflozina.

E quais foram os Resultados?

Entre os pacientes avaliados, 3,2% (347 pacientes) apresentaram uma deterioração da TFGe para menos de 25 mL/min/1,73 m². Esses pacientes tiveram um risco maior do desfecho composto primário (HR 1,87; IC95% 1,48 – 2,35; p<0,001). No entanto, o risco do desfecho primário foi menor com dapagliflozina em comparação com placebo, tanto para pacientes que experimentaram (HR 0,53; IC95% 0,33 – 0,83) quanto para aqueles que não experimentaram (HR 0,78; IC95% 0,72 – 0,86) deterioração da TFGe. Além disso, não houve aumento significativo nos riscos de segurança, incluindo a descontinuação do medicamento, entre os grupos de tratamento.

Quais as Conclusões e Implicações Clínicas?

  • Pacientes com DRC são pacientes de ALTO RISCO! Isso não é novidade, e estes dados são consistentes. Afinal, aqueles que apresentam deterioração da função renal também foram aqueles que apresentaram maior incidência do desfecho primário.
  • Benefício da Continuação do Tratamento. Pacientes com IC e deterioração da função renal podem se beneficiar da continuação do tratamento com dapagliflozina, sem excesso de riscos de segurança.
  • Atenção para Insuficiência Renal Aguda! Este estudo explora a manutenção da dapagliflozina na deterioração CRÔNICA da função renal, entendida como progressão da doença. É diferente do paciente que se apresenta com IRA, na qual, geralmente é aconselhável suspender a dapagliflozina para não aumentar o risco de efeitos adversos, incluindo desidratação, hipotensão e desequilíbrios eletrolíticos.

Referência

S Chatur, M Vaduganathan, BL Claggett, et al. Dapagliflozin in Patients With Heart Failure and Deterioration in Renal Function. J Am Coll Cardiol 2023 Nov 07;82(19)1854-1863,

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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