Insuficiência Cardíaca

Novo monitor remoto de insuficiência cardíaca pode melhorar qualidade de vida

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Para pacientes com insuficiência cardíaca crônica, o monitoramento hemodinâmico com o sistema CardioMEMS-HF melhora a pontuação geral do Questionário de Cardiomiopatia de Kansas City (KCCQ) mais do que o tratamento padrão, de acordo com um estudo publicado online 20 de maio no The Lancet e apresentado no congresso europeu Heart Failure 2023.

O que é o sistema CardioMEMS HF?

O sistema CardioMEMS HF (Abbott) é um dispositivo implantável que é usado para monitorar a pressão arterial pulmonar em pacientes com insuficiência cardíaca. O objetivo é fornecer informações em tempo real aos médicos, para que eles possam gerenciar melhor a condição do paciente e possivelmente evitar hospitalizações relacionadas à insuficiência cardíaca. O CardioMEMS foi aprovado pela FDA (Food and Drug Administration) nos Estados Unidos.

O sistema CardioMEMS consiste em três componentes principais:

  1. Sensor Implantável: O sensor é um pequeno dispositivo que é implantado no ramo das artérias pulmonares do paciente. Ele é inserido através de um cateter, geralmente através de uma veia na perna. Este sensor não possui bateria e é alimentado remotamente por radiofrequência quando é necessário ler dados.
  2. Sistema de Leitura Externo: O paciente possui uma unidade de leitura externa em casa. Isso normalmente consiste em um travesseiro especial equipado com eletrônicos que energiza o sensor implantável e lê os dados de pressão arterial pulmonar.
  3. Sistema de Monitoramento Remoto: Os dados lidos pelo sistema de leitura são enviados para um sistema de monitoramento remoto seguro baseado na nuvem. O médico do paciente pode acessar esses dados em tempo real e usá-los para tomar decisões sobre o tratamento do paciente.

O uso do CardioMEMS permite que os médicos monitorem de perto as mudanças nas pressões pulmonares, o que pode ser um indicador de piora da insuficiência cardíaca.

E como foi o estudo MONITOR-HF com este dispositivo?

Este estudo, foram randomizados 348 pacientes com insuficiência cardíaca sintomática classe III (NYHA) e história de hospitalização recente, para monitoramento hemodinâmico (sistema CardioMEMS-HF) ou tratamento padrão. Ao todo, 176 pacientes foram designados para o grupo intervenção, e 172 para o grupo controle. A idade foi 69 anos (mediana), e a fração de ejeção 30% (mediana). O desfecho primário foi a diferença média na pontuação do escore KCCQ aos 12 meses.

Os pesquisadores descobriram que a diferença na mudança média na pontuação resumida geral do KCCQ em 12 meses foi de 7,13 pontos, por isso foi altamente significativa (IC95% 1,51–12,75; P = 0,013). Na análise de resposta, as razões de chances foram de 1,69 para uma melhora de pelo menos 5 pontos na pontuação geral do KCCQ, e 0,45 para uma deterioração de pelo menos 5 pontos a favor do CardioMEMS-HF. Complicações relacionadas ao dispositivo ou ao sistema foram observadas em 2,3%, e 1,2% tiveram alguma falha do sensor.

Também foram positivas as internações por IC. Houve uma redução de 44% nessas hospitalizações no grupo intervenção, mas a redução do risco absoluto (RAA) foi mínima – variação de ≈ 0,3 hospitalizações por paciente/ano.

Monitoramento hemodinâmico e subsequente ajuste individualizado de diuréticos e outros medicamentos guiados por diretrizes melhoram substancialmente e significativamente a qualidade de vida e reduzem o número de hospitalizações por insuficiência cardíaca entre pacientes com insuficiência cardíaca“, escrevem os autores.

Alguns comentários
  • O desfecho primário foi um endpoint subjetivo que mede a qualidade de vida. KCCQ é relatado pelo paciente, e inclui uma série de perguntas para avaliar coisas como limitações físicas, sintomas, auto-suficiência, qualidade de vida, limitações sociais e bem-estar emocional.
  • O estudo MONITOR-HF não foi desenhado para detectar desfechos clínicos. O achado de redução nas hospitalizações precisa ser melhor elucidado.
  • Este foi um ECR aberto. Em outras palavras, um grupo recebeu um monitor, e o outro grupo não tinha nenhum dispositivo. Isso pode ter induzido viés de experimentação (o grupo intervenção pode ter sido melhor cuidado e gerenciado) e/ou viés de resposta do participante (o paciente com o monitor pode ter supervalorizado sua qualidade de vida nas respostas).
  • De toda a forma, a área de monitoramento da saúde cardiovascular, e consequentemente “antecipação dos problemas”, tem crescido cada vez mais e este é uma peça importante no entendimento desses dispositivos.

 

Referências:

Brugts JJ, Radhoe SP, Clephas PRD, et al. Remote haemodynamic monitoring of pulmonary artery pressures in patients with chronic heart failure (MONITOR-HF): a randomised controlled clinical trial. Lancet. 2023; (published online May 20.https://doi.org/10.1016/S0140-6736(23)00923-6

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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