Prevenção

Utilidade preditiva do escore de risco poligênico para doença coronariana em adultos jovens e de meia-idade

Escrito por Elaine Coutinho

Esta publicação também está disponível em: Português

O aumento na incidência de doenças cardiovasculares ateroscleróticas (DCVA) de caráter precoce frequentemente está relacionado a fatores de risco potencialmente controláveis em prevenção primária. Assim, identificar o risco genético individual antes do desenvolvimento do fator de risco seria ainda mais interessante. Neste sentido, a utilização do escore de risco poligênico (PRS; polygenic risk score) tem despertado interesse cientifico e, atrelado aos avanços no sequenciamento em larga escala, maior disponibilidade e redução de custo, parece ser uma boa ferramenta de estratificação de risco. Brevemente, definem-se como doenças poligênicas aquelas que relacionam a interação do ambiente com a expressão das alterações de um genoma. (Cheque também este post sobre novas ferramentas de estratificação de risco: https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/novas-tecnicas-de-avaliacao-de-risco-cardiovascular/)

O presente estudo teve como objetivo determinar se a utilidade preditiva baseada no PRS foi superior ao modelo tradicional de estimativa de risco de doença coronária (DAC) a longo prazo (30 anos). Para isso, dados de adultos de 20 a 59 anos de idade sem antecedente prévio de DAC de duas grandes coortes – FOS (Framingham Offspring Study) e ARIC (Atherosclerosis Risk in Communities) – foram analisados. Como o PRS foi derivado de amostras de ascendência predominantemente europeia, foram incluídos indivíduos que se autodeclararam como brancos. A amostra foi estratificada por idade e coorte: jovens (FOS, 20-39 anos [mediana, 30 anos] de idade), meia-idade precoce (FOS, 40-59 anos [mediana, 43] anos de idade),e meia-idade tardia (ARIC, 45–59 anos [mediana, 52 anos] de idade). Os dados destes indivíduos foram submetidos a: (1) um escore de risco tradicional de 30 anos e (2) um PRS de todo o genoma compreendendo > 6 milhões de variantes genéticas. Nove mil adultos de 20 a 59 anos tiveram seu PRS de todo o genoma analisado e associações relacionadas à incidência de DAC foram feitas.

No subconjunto de adultos jovens previstos para estar no tercil mais baixo de risco de DAC pelo modelo tradicional de risco de longo prazo, um escore de risco poligênico mais alto em comparação com o tercil mais baixo foi associado a um índice de 30 anos apenas um pouco mais alto risco de DAC (3,4% versus 1,4%). No entanto, as recomendações para mudança de fatores modificáveis dificilmente seriam alteradas.

No subconjunto de jovens adultos previstos para estar no mais alto tercil de risco para DAC de acordo com o modelo tradicional de risco de longo prazo, o escore de risco poligênico no tercil mais alto indica um risco ainda maior de DAC (25,8% versus 6,4%).

-Não houve diferenças estatisticamente significativas em adultos de meia idade.

Esses achados demonstram a utilidade limitada do PRS para predição de risco a longo prazo de DAC entre jovens e adultos de meia-idade com baixa prevalência de fatores de risco tradicionais. Além disso, evidenciam aplicabilidade limitada do PRS em todos os indivíduos para a prevenção primária de DAC e sugerem que o PRS ainda não está pronto para integração na prática clínica neste contexto. Esta evidência se alinha com um estudo prévio em que também não houve utilidade para predição de risco em adultos de meia-idade a idosos que demonstraram a falta de utilidade clínica com a adição do PRS para previsão de risco padrão de 10 anos (American College of Cardiology/American Heart Association Pooled Equações de Coorte).

O estudo conclui que apesar de uma associação estatisticamente significativa entre escore de risco poligênico e risco de DAC em 30 anos, análise pormenorizada (estatística C) demonstra benefício discreto da adição de PRS ao modelo tradicional entre adultos jovens e ausente nos adultos de meia-idade. Assim, a pontuação de risco poligênico não melhorou significativamente a discriminação no em prevenção primária em adultos jovens e de meia-idade.

REFERÊNCIA

Khan SS, Page C, Wojdyla DM, Schwartz YY, Greenland P, Pencina MJ. Predictive Utility of a Validated Polygenic Risk Score for Long-Term Risk of Coronary Heart Disease in Young and Middle-Aged Adults. Circulation. 2022 Aug 23;146(8):587-596. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.121.058426. https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIRCULATIONAHA.121.058426?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed  

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