Insuficiência Cardíaca

Inibidores de SGLT2 em pacientes frágeis

Escrito por Remo Holanda

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A fragilidade é uma condição comumente presente na nossa prática clínica e que por muito tempo tem sido negligenciada. Entretanto, cada vez mais se sabe da associação importante entre fragilidade e doenças cardiovasculares, como a insuficiência cardíaca (IC) (Quer saber mais sobre isso?  Cheque esta postagem: https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/fragilidade-e-doenca-cardiovascular-o-que-voce-precisa-saber/). O estudo DELIVER mostrou que a dapagliflozina, um inibidor de SGLT2 (sodium glucose co-transporter 2), reduziu o desfecho composto de morte cardiovascular ou piora da IC em pacientes portadores de insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP).  Mas seria adequado o uso de inibidores de SGLT2 em pacientes frágeis?

 

Uma sub-análise do estudo DELIVER publicada por Butt e cols. no periódico Circulation trouxe alguns achados interessantes. O estudo  DELIVER randomizou 6263 pacientes com ICFEP em tratamento otimizado para dapagliflozina 10 mg versus placebo. Destes pacientes, 6258 tinham disponível um índice de fragilidade (IF), que foi calculado a partir de características diversas como qualidade de vida e co-morbidades. Ao todo, 2354 pacientes foram considerados sem fragilidade (IF ≤ 0,21), 2413 com fragilidade moderada (IF  0,21 a 0,31) e 1491 com  fragilidade importante (IF ≥ 0,31). A presença de fragilidade importante se associou a um aumento na taxa de morte CV ou piora da insuficiência cardíaca em comparação aos pacientes que não eram frágeis (hazard ratio [HR] ajustado 1,53; intervalo de confiança [IC] 95% 1,29 – 1,81). Além disso, a dapagliflozina reduziu o desfecho primário do estudo independente do IF dos pacientes (P para interação = 0,27), mantendo uma redução importante mesmo entre os pacientes considerados muito frágeis (HR 0,74; IC 95% 0,61 – 0,91). A presença de fragilidade também não se associou a aumento de eventos adversos como depleção de volume, cetoacidose ou insuficiência renal aguda com a dapagliflozina.

Esta sub-análise trata de uma questão clínica relevante abrangendo uma população cujos tratamentos são muito limitados. O estudo se baseia em um banco de dados de um dos maiores estudos randomizados já feitos sobre ICFEP, e a análise de fragilidade foi pré-especificada. Uma limitação importante foi o fato  de que o IF foi calculado a partir de outras variáveis, e não por meio de um questionário estruturado. Dito isso, este estudo traz algumas mensagens importantes. Primeiro, a fragilidade se associa com desfechos cardiovasculares, incluindo desfechos específicos da ICFEP. Segundo, a dapagliflozina reduziu as complicações da ICFEP e melhorou a qualidade de vida não importa se os pacientes fossem frágeis ou não. Terceiro, a dapagliflozina não pareceu resultar em aumento de efeitos colaterais importantes entre os pacientes frágeis. Com isso, podemos ficar mais confortáveis em utilizar inibidores de SGLT2 para o tratamento da ICFEP mesmo em pacientes considerados frágeis.

REFERÊNCIAS

Butt JH, Jhund PS, Belohlávek J, de Boer RA, Chiang CE, Desai AS, Drożdż J, Hernandez AF, Inzucchi SE, Katova T, Kitakaze M, Kosiborod MN, Lam CSP, Maria Langkilde A, Lindholm D, Bachus E, Martinez F, Merkely B, Petersson M, Saraiva JFK, Shah SJ, Vaduganathan M, Vardeny O, Wilderäng U, Claggett BC, Solomon SD, McMurray JJV. Efficacy and Safety of Dapagliflozin According to Frailty in Patients With Heart Failure: A Prespecified Analysis of the DELIVER Trial. Circulation. 2022; 146(16): 1210-1224. (https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/CIRCULATIONAHA.122.061754?rfr_dat=cr_pub++0pubmed&url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori%3Arid%3Acrossref.org)

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