Valvopatias

Já ouviu falar de Troca Valvar Mitral Transcateter?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

Uma grande proporção de pacientes que apresentam doença grave da válvula mitral são considerados de alto risco para cirurgia convencional e podem se beneficiar de alternativas transcateter. O uso de válvulas aórticas transcateter (TAVI) para o tratamento de doenças graves da MV foi descrito pela primeira vez há uma década em séries de casos, com registros maiores subsequentes relatando resultados de acompanhamento.

Neste sentido, o estudo MITRAL (Mitral Implantation of Transcatheter Valves) foi o primeiro estudo prospectivo de inserção de válvula transcateter expansível por balão para o tratamento de pacientes com calcificação grave do anel mitral, anuloplastia falha, e disfunção de próteses biológicas anteriormente implantadas. Nos resultados de 1 ano do estudo MITRAL, foi demonstrada excelente sobrevida de 1 ano (97%) na válvula sobre válvula (valve-in-valve), ao passo em que estes resultados foram menores em pacientes de anuloplastia tratados (77%) e aqueles com calcificação mitral importante (65%). Nós já comentamos também sobre os resultados de 2 anos deste estudo neste post (vale rever os insights do nosso colaborador Tiago Bignoto aqui).

Agora, temos resultados do seguimento de 5 anos desses pacientes, o que acende uma luz de esperança para pacientes com insuficiência cardíaca e doença mitral grave que são considerados de alto risco para cirurgia.

Realizado em 13 locais nos Estados Unidos, o estudo avaliou três grupos de pacientes submetidos a diferentes procedimentos de substituição da válvula mitral:

  • válvula sobre válvula (valve in valve, MViV), n= 30,
  • vávula sobre anel de anuloplastia prévia (valve in ring, MViR), n= 30, e
  • valva mitral com anel calcificado (valve-in-mitral annular calcification, ViMAC), n = 31.

A idade média foi de 74,3 anos, e o tempo de seguimento foi de cinco anos.

Os resultados são promissores, principalmente para o grupo MViV. A taxa de mortalidade por todas as causas foi significativamente menor neste grupo, em 21,4%, e a maioria dos pacientes mostrou melhorias significativas em sua qualidade de vida e sintomas de insuficiência cardíaca. Em contraste, os grupos MViR e ViMAC tiveram taxas de mortalidade mais altas, de 65,5% e 67,9%, respectivamente.

Apesar das diferentes taxas de mortalidade, todos os três grupos mostraram melhorias significativas na qualidade de vida, aferida pelos  escores do Questionário de Cardiomiopatia de Kansas City.

Alguns insights importantes:
  1. Eficácia a Longo Prazo: O estudo confirma que os procedimentos MViV, MViR e ViMAC podem ser viáveis a longo prazo, especialmente útil para pacientes que são considerados de alto risco para cirurgia mitral convencional. Isso valida a técnica como uma opção durável para tratamento.
  2. Qualidade de Vida: A melhoria sustentada na qualidade de vida e nos sintomas de insuficiência cardíaca é um aspecto crucial que reforça a utilidade clínica desses procedimentos.
  3. Variação nos Grupos: A taxa de sobrevivência variou significativamente entre os grupos MViV, MViR e ViMAC. Isso sugere que mais pesquisas são necessárias para entender essas diferenças e poder personalizar o tratamento com mais precisão.
  4. Seleção de Pacientes: As diferenças nas taxas de sobrevivência entre os diferentes grupos também enfatizam a importância da seleção criteriosa de pacientes, para maximizar os benefícios do procedimento.
  5. Estabilidade Hemodinâmica: O fato de os gradientes mitrais médios terem permanecido estáveis entre as modalidades é encorajador, mostrando que a válvula implantada permanece funcional ao longo do tempo.
  6. Direcionamento para Futuras Pesquisas: A observação de que os pacientes com mais regurgitação mitral residual têm maior mortalidade pode direcionar pesquisas futuras para abordagens de tratamento otimizadas para esse subconjunto de pacientes.
Resumindo…

Em resumo, enquanto os resultados variaram entre os grupos, todos os procedimentos de substituição da válvula mitral transcaterter mostraram melhorias sustentadas nos sintomas de insuficiência cardíaca e qualidade de vida ao longo de um período de cinco anos.

Referências

Guerrero M., Pursnani A., Narang A., et al. “Prospective evaluation of transseptal TMVR for failed surgical bioprostheses: MITRAL trial valve-in-valve arm 1-year outcomes”J Am Coll Cardiol Intv 2021;14:8: 859-872.

Guerrero ME, Eleid MF, Wang DD, et al. 5-Year Prospective Evaluation of Mitral Valve-in-Valve, Valve-in-Ring, and Valve-in-MAC Outcomes: MITRAL Trial Final Results. JACC Cardiovasc Interv. 2023 Sep 25;16(18):2211-2227. doi: 10.1016/j.jcin.2023.06.041.

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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