Coronariopatia Manchetes da Semana Miscelânia

Já ouviu falar em Microbiota Intestinal e Aterosclerose?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

A microbiota intestinal tem sido implicada na doença aterosclerótica, mas sua relação com a aterosclerose coronária subclínica ainda não é clara. Um estudo sueco de base populacional, transversal, buscou identificar as associações entre o microbioma intestinal e as medidas de aterosclerose coronária detectadas por tomografia computadorizada, explorando correlações clínicas relevantes.

A Pesquisa

Entre 8.973 participantes (idade média, 57,4 anos; 53,7% mulheres) sem doença aterosclerótica evidente, a composição da microbiota intestinal foi avaliada por meio de amostras de fezes, e a aterosclerose coronária foi medida usando o escore de cálcio das artérias coronárias e a CCTA.

Utilizando sequenciamento metagenômico shotgun das fezes, 19 espécies de bactérias intestinais foram encontradas associadas aos escores de cálcio das artérias coronárias e marcadores de inflamação sistêmica, com destaque para as espécies de Streptococcus. Cinco espécies, incluindo três espécies de Streptococcus, estavam correlacionadas com as mesmas espécies na saliva e associadas a patologias orais.

Este estudo amplo sugere uma possível ligação entre a composição da microbiota intestinal, a aterosclerose coronária subclínica e marcadores de inflamação. Mais estudos são necessários para explorar o papel das bactérias intestinais na aterogênese.

O Microbioma Pode Prever Doença das Artérias Coronárias?

Este é o maior estudo cardiovascular-metagenômico do microbioma até o momento. Os pesquisadores procuraram correlações entre o microbioma, biomarcadores inflamatórios e escores de cálcio coronariano derivados de CT com angiografia.

A maior correlação com a doença coronária foi com espécies de Streptococcus encontradas tanto na boca quanto no intestino. As espécies viridans de Streptococci (SGV) foram associadas aos mais altos níveis de proteína C-reativa de alta sensibilidade e leucocitose. Pesquisas anteriores já haviam descoberto que o SGV da boca pode atravessar a barreira intestinal, agredir as valvas cardíacas e acelerar a inflamação dentro de uma placa aterosclerótica. Na verdade, o SGV responde por 20% dos casos de endocardite infecciosa.

O Que Isso Significa Clinicamente?

Quanto mais pesquisamos, mais percebemos como o corpo é incrivelmente interconectado. Se a boca e a dentição não estiverem saudáveis, há uma boa chance de que, mediado pelo intestino, o sistema cardiovascular também esteja em risco. Mais estudos longitudinais e experimentais são necessários para explorar as possíveis implicações de um componente bacteriano na aterogênese. Mas, por enquanto, o mais importante a fazer é buscar promover a saúde de nossos pacientes como um todo.

Referência

Sayols-Baixeras S, Dekkers KF, Baldanzi G, et al. Streptococcus Species Abundance in the Gut Is Linked to Subclinical Coronary Atherosclerosis in 8973 Participants From the SCAPIS Cohort. Circulation. 2023 Aug 8;148(6):459-472. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.123.063914. Epub 2023 Jul 12

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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