Arritmia

O Controle de Ritmo Precoce é uma Boa Estratégia para Qualquer Tipo de Fibrilação Atrial?

Escrito por Pedro Veronese

Esta publicação também está disponível em: Português

Em primeiro lugar vamos falar um pouco sobre o estudo EAST-AFNET 4 que foi publicado em 2020 no NEJM e avaliou 2.789 pacientes. Ele concluiu que o controle de ritmo precoce (CRP) na fibrilação atrial (FA) foi associado a um menor risco de eventos cardiovasculares, quando comparado ao tratamento convencional, entre pacientes com FA de início recente (diagnóstico ≤ 12 meses da randomização) e certas condições cardiovasculares; idade > 75 anos, acidente vascular cerebral (AVC)/ataque isquêmico transitório (AIT) prévio, ou que reunia 2 dos critérios a seguir: idade > 65 anos, sexo feminino, insuficiência cardíaca (IC), hipertensão arterial, diabetes, doença de artéria coronária grave, doença renal crônica e hipertrofia ventricular esquerda.

(Confira mais dicas sobre FA neste nosso post: https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/como-prevenir-fibrilacao-atrial-no-pos-operatorio-de-cirurgia-cardiaca/)

Uma nova subanálise pré-especificada deste estudo, foi publicada recentemente, JACC Vol. 80, no. 4, 2022: 283-295. O efeito do CRP foi comparado entre os pacientes com primeira detecção de FA (PDFA), FA paroxística (FApx) e FA persistente (FApers). Avaliou-se associações entre o padrão de FA e os desfechos primários (primeiro desfecho primário sendo o composto de morte cardiovascular, AVC,  hospitalização por IC ou síndrome coronariana aguda [SCA]; segundo desfecho primário: noites passadas no hospital por ano), com um follow-up médio de 5,1 anos.

Os pacientes com PDFA (n=1.048, randomizados 7 dias após o diagnóstico de FA) foram discretamente mais idosos (71 anos, 48% mulheres) que os pacientes com FApx (n=994, 70 anos, 50% mulheres) e FApers (n=743, 70 anos, 38% mulheres). O CHA2DS2VASc dos 3 grupos era comparável, assim como o uso de anticoagulantes e o tratamento de outras comorbidades cardiovasculares. O CRP reduziu o desfecho primário nos 3 padrões de FA. Hospitalização por SCA foi maior nos pacientes com PDFA (iRR: 1,50; 95% IC: 0,83-2,69; P para interação=0,032) comparado com FApx (iRR: 0,64; 95% IC: 0,32-1,25) e FApers (iRR: 0,50; 95% IC: 0,25-1,00). Pacientes com PDFA passaram mais noites no hospital (iRR: 1,38; 95% IC 1,12-1,70; P para interação = 0,004) que pacientes com FApx (iRR: 0,84; 95% IC 0,67-1,03) e FApers (iRR: 1,02; 95% IC: 0,80-1,30).

A conclusão dos autores foi:

O controle do ritmo precoce reduziu o desfecho primário composto em todos os padrões de fibrilação atrial, seja primeira detecção, paroxística e persistente. Pacientes com PDFA são de alto risco para hospitalização e SCA, quando submetidos ao CRP.

Comentário Cardiopapers:

Apesar de ser uma análise de subgrupo pré-especificada do estudo EAST-AFNET 4, há sempre limitações metodológicas neste cenário, pois o “power” do estudo original não é calibrado para este tipo de análise (subgrupo). Outra questão importante de se ressaltar é que os pacientes com PDFA, tinham essa detecção feita de forma clínica, o que não descarta que muitos já podiam ter FA assintomática por longos períodos.

No estudo original, o tempo médio entre o diagnóstico de FA e a randomização foi de 36 dias, configurando-se um grupo muito selecionado, que pode não representar a maioria dos pacientes da prática clínica. E finalmente, o cegamento dos pacientes que são submetidos à ablação não costuma ser feito, o que pode dificultar a interpretação dos resultados.

Colocadas todas essas questões, este é um importante estudo que sugere que a manutenção do ritmo sinusal de forma precoce, seja com antiarrítmico, seja com ablação por cateter, em pacientes com PDFA, FApx, ou FApers pode reduzir desfechos como morte cardiovascular, AVC e internação por IC. 

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Sobre o autor

Pedro Veronese

Médico Especialista em Clínica Médica pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Cardiologista, Arritmologista e Eletrofisiologista pelo InCor-HCFMUSP.
Médico Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC.
Médico Especialista em Arritmia Clínica e Eletrofisiologia pela Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas - SOBRAC.
Médico do Centro de Arritmias Cardíacas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Doutor em Cardiologia pelo InCor - HCFMUSP.
Preceptor da Residência de Clínica Médica do Hospital Estadual de Sapopemba e Hospital Estadual Vila Alpina.
Médico Chefe de Plantão do Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Professor da Faculdade de Medicina UNINOVE.

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