Miscelânia

Coração de atleta ou cardiopatia estrutural? Como diferenciar?

Escrito por Eduardo Lapa

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Texto do Dr Aluísio Macedo Jr, cardiologista do HC-UFPE.

É comum o cardiologista se deparar no dia a dia com pedidos para avaliar atletas em consultas de rotina para emitir laudo sobre a prática esportiva competitiva. E agora? Como devo me nortear para saber separar o que pode ser sinal de uma doença cardíaca subjacente ou meramente algo fisiológico relacionado ao treinamento. Daremos algumas dicas que podem ser bastante úteis neste cenário.

História clínica e exame físico: Relato de síncope/pré-síncope, desconforto torácico no esforço, dispneia desproporcional ao grau de exercício e palpitações aumentam a suspeita de um processo patológico. Da mesma forma, história familiar detalhada pode ser muitas vezes o ponto de partida para futuras investigações. No exame físico a presença de sopro deve chamar a atenção, principalmente sopro sistólico em borda esternal esquerda e os de regurgitação mitral. Estes sopros podem estar relacionados a miocardiopatia hipertrófica (CMH).

Eletrocardiograma (ECG): Via de regra, atletas homens, negros e praticantes de esporte de alta endurance tendem a exibir maior prevalência de alterações eletrocardiográficas.

     – Atletas brancos podem ter inversão de onda T fisiológica em V1-V2 e isso é mais comum em mulheres (4,3% x 1,4%).

     – Atletas negros podem ter inversão de onda T fisiológica em V1-V4, geralmente acompanhadas de elevação do ponto J do segmento ST. Em um estudo, este padrão foi visto em 12,7% dos atletas negros.

DICA:

  • Inversão de onda T em derivações laterais, depressão do segmento ST, ondas Q patológicas e BRE justificam investigações adicionais e podem estar mais provavelmente associadas com patologias.

Ecocardiograma (ECO):

     – Maioria dos atletas homens (69%) e mulheres (71%) exibem geometria ventricular normal;

     – Até 10% dos atletas brancos podem exibir hipertrofia concêntrica ou remodelamento concêntrico;

DICA:    

  • É raro atletas terem espessura relativa da parede > 0,48 (esta é calculada pela soma da espessura da parede septal com a parede posterior na diástole dividido pela dimensão da cavidade diastólica ventricular);

     – Maioria dos atletas exibem espessura da parede do VE ≤ 12 mm;

     – Maior proporção de atletas negros do que atletas brancos tem espessura da parede do VE > 12 mm (18% de negros x 4% de brancos) e > 15 mm (3% dos negros x 0% dos brancos);

DICA

  • É raro ter hipertrofia fisiológica com espessura de parede de VE > 16 mm independente da etnia.

Ressonância (RNM):

     – Boa opção em atletas com pobre janelas ecocardiográficas;

     – Presença de realce tardio com gadolínio é mais frequente em pacientes com CMH e tem aumentada prevalência em segmentos hipertrofiados.

     – Mapeamento em T1 antes do contraste e após o contraste permite quantificar o volume miocárdico extracelular (VEM) o qual se correlaciona com fibrose intersticial difusa.

Finalmente, destreino pode ser de algum valor quando a persistência da hipertrofia ventricular é mais indicativa de patológica do que fisiológica. Entretanto, o longo período requerido de inatividade (2-3 meses) e as implicações significativas para a carreira do atleta, faz dessa opção não muito prática.

Importante lembrar que estas características apenas servem como um guia, não quer dizer que devemos ignorar um atleta negro com inversão de onda T de V1-V4, assintomático, mas com história familiar de morte súbita por exemplo, obviamente que este atleta merecerá uma investigação mais minuciosa.

Segue abaixo figura ilustrativa:

Referência: Augustine DX. Left Ventricular Hypertrophy in Athletes: Differentiating Physiology FromPathology. Curr Treat Options Cardio Med 2018

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Sobre o autor

Eduardo Lapa

Editor-chefe do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela SBC

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