Cardio-oncologia Prevenção

Câncer é o Novo Fator de Risco Cardiovascular?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

O tratamento para câncer pode aumentar o risco cardiovascular para complicações decorrentes da toxicidade de quimioterápicos. Isso, certamente você já sabe. É, inclusive, o fundamento para o crescimento da sub-especialidade Cardio-Oncologia. A novidade aqui é outra. O paciente que já teve alguma neoplasia pode apresentar maior risco cardiovascular futuro, independente do tratamento?

Esta é o principal achado de um estudo apresentando no último AHA 2023, sugerindo que o câncer deve ser considerado um novo fator de risco cardiovascular na prevenção primária e secundária.

Como foi o estudo?

A análise retrospectiva incluiu 937 pacientes que passaram por angioplastia coronária por síndrome coronariana aguda entre 2008 e 2022. Desses, 9,5% tinham histórico de câncer.

Durante um acompanhamento médio de 45 meses (variando de 14 a 72 meses), as taxas de incidência cumulativas de um evento cardiovascular maior (MACE – morte cardiovascular, AVC, infarto agudo do miocárdio, ou nova angioplastia) foram de 22,2% (155/698) e 28,4% (25/88) nos grupos sem e com histórico de câncer, respectivamente.

A incidência de eventos cardiovasculares maiores foi significativamente maior no grupo com histórico de câncer: 0,78 evento/100 pacientes/mês, comparado a 0,48 no grupo sem histórico de câncer.

Além da análise de Kaplan-Meier ter mostrado uma maior probabilidade de MACE nesse grupo de pacientes,  a análise de regressão de Cox multivariada identificou o histórico de câncer como um preditor independente de eventos cardiovasculares maiores.

Implicações Clínicas:

O estudo é relevante, e reforça a conexão entre doenças oncológicas e cardiovasculares. Embora observacional, aponta uma necessidade de uma intensificar as medidas de prevenção cardiovascular primária e secundária em sobreviventes de câncer, considerando a epidemiologia e a história natural desses pacientes. Ou seja, não estamos mais falando apenas de cardiotoxicidade por quimioterápicos, mas de um risco residual maior que permanece para além do tratamento anti-neoplásico.

Na discussão do estudo, os autores enfatizaram a necessidade de metas mais rigorosas de prevenção cardiovascular primária para pacientes com histórico de câncer, equiparando-as às de pacientes com diabetes ou insuficiência renal crônica. O estudo realça a necessidade de uma abordagem diferenciada na prevenção cardiovascular de pacientes com histórico de câncer, considerando fatores específicos como terapias oncológicas e inflamação endotelial.

Mensagem final

Se o paciente afirmar que teve alguma neoplasia no passado, ATENÇÃO! É um paciente que pode ter maior risco cardiovascular e demandar mais cuidados!

 

Referência

Melchiori et al. Cancer as a New Risk Factor for Major Adverse Cardiovascular Events in Secondary Prevention. Circulation. 2023;148:A16592

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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