Miscelânia

Café aumenta a incidência de extrassístoles?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo, mas seus efeitos agudos na saúde ainda são temas de grande debate.

A advertência de evitar o café devido aos efeitos proarrítmicos (p.ex. extrassístoles) possui evidências contraditórias. (veja mais sobre café e arritmias aqui).

Além disso, estudos observacionais relacionam o consumo de café a taxas mais baixas de diabetes e mortalidade, possivelmente devido ao estímulo à atividade física. Por outro lado, pode afetar negativamente o sono.

Publicado recentemente no NEJM, o estudo CRAVE (Coffee and Real-time Atrial and Ventricular Ectopy) foi um ensaio clínico prospectivo, randomizado e com crossover que examinou efeitos do café (cafeinado) na incidência de ectopias e outras arritmias, contagem diária de passos, duração do sono, e níveis de glicose.

Ao todo, 100 participantes foram incluídos no estudo (idade média 39 ± 13 anos; 51% eram mulheres). Para serem incluídos, eles deveriam estar dispostos a abster-se de tomar café por ≥ 2 dias consecutivos ao longo de um período de 14 dias. Foram excluídos adultos com histórico de fibrilação atrial, insuficiência cardíaca ou com marcapasso ou desfibrilador implantados, e aqueles em uso de medicações antiarrítmicas ou cronotrópicas negativas. Ao examinar o consumo habitual de café, 11% relataram consumir menos de 1 xícara de café por mês e 54% relataram consumir pelo menos 1 xícara por dia, com 25% consumindo 2 xícaras ou mais diariamente.

Os participantes usaram um dispositivo de ECG de gravação contínua, um acelerômetro de pulso e um monitor contínuo de glicose. Mensagens de texto diárias eram enviadas aos participantes ao longo de um período de 14 dias para instruí-los aleatoriamente a consumir café, ou evitar cafeína. O desfecho primário foi o número médio de extrassístoles atriais (ectopias) diárias. A adesão foi avaliada com o uso de indicadores em tempo real registrados pelos participantes, questionário de atividades diárias, reembolsos de recibos de compra de café, e monitoramento virtual (GPS) de visitas a cafeterias.

Quais foram os principais achados?

O café com cafeína não foi associado a um aumento nas extrassístoles atriais prematura.

Houve um leve aumento nas extrassístoles ventriculares (154 vs. 102 contrações, respectivamente).

O café foi associado a cerca de 30 minutos a menos de sono diariamente e a um leve aumento no número de passos diários.

Não foi observada diferença nos níveis de glicose sérica.

O estudo sugere que o consumo de café com cafeína não está associado a um aumento significativo no risco de arritmias. É importante ressaltar que a população estudada era composta por indivíduos relativamente jovens e saudáveis. Portanto, os resultados podem não ser aplicáveis a populações com outras condições cardíaca pré-existentes ou idades avançadas.

Impressão: Este estudo fornece alguns insights importantes em relação ao consumo “agudo” de café, por meio do monitoramento contínuo com wearables. Por outro, lado, o estudo foi relativamente pequeno, e a população estudada era composta por indivíduos relativamente jovens e saudáveis. Portanto, os resultados podem não ser aplicáveis a populações com outras condições cardíaca pré-existentes ou idades avançadas. Além disso, o ensaio não foi cego, e fatores além do café com cafeína podem ter influenciado o desempenho de cada indivíduo.

Confira mais neste post sobre café e o coração.

Referência

Marcus GM, Rosenthal DG, Nah G, et al. Acute effects of coffee consumption on health among ambulatory adults. New England Journal of Medicine. 2023;388(12):1092-1100. doi:10.1056/nejmoa2204737

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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