Miscelânia

Solidão pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares?

Escrito por Humberto Graner

Esta publicação também está disponível em: Português

A solidão e o isolamento social, componentes significativos dos determinantes sociais de saúde, refletem diferentes aspectos do contato social. Solidão se refere aos sentimentos emocionais relacionados à qualidade das relações sociais. Já o isolamento à quantidade dessas relações. Ainda que ambos estejam associados a um risco maior de doenças cardiovasculares, em geral este é um aspecto ainda negligenciado especificamente em indivíduos com diabetes. Além disso, ainda não está claro como a solidão ou o isolamento interagem com o grau de controle de fatores de risco para doenças cardiovasculares. Recentemente, a American Heart Association realçou a importância de olharmos além dos fatores de risco tradicionais para DCV e considerarmos também os determinantes sociais de saúde.

Uma pesquisa recente teve como objetivo avaliar a solidão e o isolamento social como possíveis fatores de risco para doenças cardiovasculares em pacientes diabéticos, bem como comparar a relevância destes com os fatores de risco tradicionais. O estudo também procurou entender como a solidão ou isolamento interagem com o grau de controle dos fatores de risco em relação ao risco de doenças cardiovasculares.

Foram incluídos um total de 18.509 participantes diagnosticados com diabetes do UK Biobank. Escalas simples de dois ou três itens foram utilizadas para avaliar os níveis de solidão e isolamento, respectivamente. O grau de controle dos fatores de risco foi definido pelo número de pacientes que mantiveram dentro da faixa alvo a hemoglobina glicada (HbA1c), a pressão arterial (PA), o LDL colesterol, o tabagismo, e a taxa de filtração renal.

Durante um acompanhamento médio de 10,7 anos, foram documentados 3247 eventos de DCV, incluindo 2771 casos de doença arterial coronária, e 701 de AVC. No modelo totalmente ajustado, os autores descobriram que pacientes diabéticos com maior pontuação de solidão tinham um risco maior de desenvolver doenças cardiovasculares. Além disso, a solidão demonstrou uma interação significativa com o grau de controle dos fatores de risco no desenvolvimento de DCV.

Esses achados sugerem que, em pacientes diabéticos, a solidão pode ser um fator de risco relevante para DCV, tendo um efeito adicional ao grau de controle dos fatores de risco tradicionais.

Quais as principais descobertas deste estudo?
  • Primeiro, que uma pontuação mais elevada na escala de solidão, mas não de isolamento social, estava significativamente associada a um risco maior de doenças cardiovasculares em pacientes diabéticos, e a esta solidão teve, inclusive, mais impacto em prever as doenças cardiovasculares do que outros fatores de risco de estilo de vida.
  • Segundo, os autores observaram que essa solidão tem uma interação significativa com outros fatores de risco, numa escala aditiva. Ou seja, é possível que aqueles que se sentem mais sozinhos também sejam menos motivados a controlar o peso, praticar atividades físicas, ou adotar uma alimentação saudável.
Guarde bem isso!

Investigar hábitos de vida durante uma consulta médica vai além de simplesmente perguntar sobre tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas ou prática de exercícios. Devemos buscar conhecer melhor nossos pacientes com relação aos determinantes sociais de saúde. Isto tem um impacto importante no risco cardiovascular, e influencia sobremaneira nosso plano terapêutico oferecido.

Referências

Wang X, Ma H, Li X, Heianza Y, Fonseca V, Qi L. Joint Association of Loneliness and Traditional Risk Factor Control and Incident Cardiovascular Disease in Diabetes Patients. Eur Heart J 2023;Jun 29:[Epub ahead of print].

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Sobre o autor

Humberto Graner

Co-Editor do site Cardiopapers
Especialista em Cardiologia e Medicina Intensiva
Professor das Faculdades de Medicina da UFG e UniEvangélica (Goiás)
Doutor em Ciências pelo InCor-HCFMUSP
Fellowship em Coronariopatias Agudas pelo InCor-HCFMUSP
Coordenador do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein - Unidade Goiânia (GO)
Pesquisador da ARO (Academic Research Organization) - Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP)

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